sábado, 21 de maio de 2011

O Caso da Casa Pia

O Caso da Casa Pia

O escândalo rebentou, o povo ficou assustado
Ao saber de tanto jovem violentado
Por bestas que de homens não têm nada.
E o Estado que tinha a missão de vigiar,
Dar formação, fazer crescer e educar,
Continua a lavar as mãos nesta embrulhada.

As crianças foram violadas, maltratadas,
E durante décadas suas queixas ignoradas,
Pelo desinteresse e silêncio de tantos.
Hoje ninguém é réu, só há inocentes,
Somos um bando de cobardes contentes,
Num país brando… onde só há santos!

A justiça perde-se num infindável emaranhado,
Que só beneficia quem é réu ou culpado
E tem dinheiro para pagar a um bom jurista.
As vitimas… que podem fazer, coitadas,
Se até pelo Estado são abandonadas,
E não têm para pagar quem as assista?

Se a justiça prende e pune quem é pobre,
Ou se as asneiras dos ricos não descobre,
As leis estão bem, não precisam mudança.
Mas se são os ricos a contas com a lei,
A legislação é obsoleta e aqui D’el-rei;
Há que alterá-la e revê-la sem tardança!

Há muitos que não se cansam de defender,
Aos amigos que a justiça quis deter,
Clamando a sua inocência com ligeireza.
É razão para em segredo lhe perguntar,
Se sabem o que se passa no próprio lar,
E se podem afirmá-lo como certeza?

Nunca em Portugal se ouviram tantas vozes,
Em defesa dos acusados, pareciam algozes,
Culpando a justiça e a lei que a sustenta.
Mas os mesmos que agora se levantaram,
Nunca abriram a boca, sempre se calaram,
Quando ela para os pobres foi violenta.

A confusão que não pára de se gerar
É obra dos que querem desacreditar
A justiça e os seus agentes;
O que é feito só para beneficiar
Os culpados que querem fazer passar
Por vítimas santas e inocentes.

O segredo de justiça é violado,
Porque há alguém interessado
A pagar alto a quem o faça.
Pois o dinheiro que tudo move;
Pode fazer que o imoral se aprove
E se torne justo e legal o devasso.

O tempo tudo cura, apaga ou esquece
O sentido de justiça, morre ou arrefece
E dá lugar ao silêncio da descrença:
As vitimas cansadas não vão reagir,
E os criminosos podem continuar a rir,
Sem arcarem com o peso da sentença.

                                 E para terminar, caros leitores,
                                 Digo que se dos “reinos inferiores”
                                 Alguém pudesse voltar.
                                 Pina Manique regressaria
                                 E aos violadores castigaria
                                 De forma justa e exemplar.

QUE VALORES?

Que valores?

Classificam-se de monumentos nacionais,
Velhos castelos, solares ou gravuras,
Mas não se elevam às mesmas alturas,
Principios que de valor têm bem mais.

É bom defender o legado dos ancestrais,
Fruto de alegrias, sonhos ou amargura,
Como é mau quando a sociedade descura,
A segurança ou outros valores sociais.

Valorizar e defender o que é secundário,
Á custa do nosso esforço e minguo erário,
É um procedimento que julgo censurável.

Assim, a quem governa de modo arbitrário,
Responsabilizo pelo estado precário,
Destes valores e sua queda incontrolável.

ORGULHO PERDIDO?

Orgulho perdido?

Que é feito do velho patriotismo,
E do orgulho da raça Portuguesa,
Se já se rendeu ao conformismo,
De só ter estrangeiro á sua mesa?

Se não produzimos o que comemos,
E importamos mais que exportamos,
Não tarda muito estaremos,
Como velha arvore sem ramos.

Querer ter fama e viver como rico,
Sem que tenha posses nem meios,
Arrisca-se a sofrer do fanico,
E a perder sem querer os arreios.

Quem gasta mais do que ganha,
E não pára com tais deslizes,
Não se alegre com a façanha,
Podem ter fim os dias felizes.

Ninguém pode, eternamente,
Viver á custa dum subsidio,
A menos que se julgue concorrente,
A um lento e colectivo suicídio.

Querer ser rico sem poder,
E querer o que eles consomem,
É o pior que pode acontecer,
Para levar a ruína ao homem.

Nesta Europa a que pertencemos.
Já tivemos o estatuto de Senhores,
Mas faz já anos que o perdemos,
E hoje somos apenas servidores.
Está em perigo a nossa identidade,
E a sobrevivência como Nação,
Se não tivermos a coragem e vaidade,
Que o passado nos legou como lição.

Não sei para onde caminha,
Ou para onde levam sem querer,
Esta terra que é Pátria minha,
E há tanto tempo sinto gemer.

Se disto fossem informados,
Quantas mágoas e desilusões,
Sentiriam os nossos antepassados,
Viriato, Afonso ou Camões.

Que diriam Vieira ou Pessoa,
Profetas do quinto Império,
Deste povo que hoje se abalroa,
E sujeita a tão grave vitupério?

Terrorismo!!!!

Terrorismo

Sinto-me triste, desolado
Com o homem meu semelhante
Ao vê-lo pelo ódio tomado
Seguir um caminho degradante

Será que Deus está vendo
O que acontece aos seus filhos:
Alguns que matam morrendo
E não fazem mais que sarilhos?

Que meta pretendem atingir
Aqueles que escolhem o terrorismo
E não pensam mais que ferir
Ou empurrar o Mundo para o abismo?

Porque razão em nome do Céus
Se faz o Inferno na Terra
E se invoca o nome de Deus
Para dar cobertura á guerra?

Quem nos livra das mentes depravadas
Que semeiam o terror e a morte
Sobre pessoas inocentes, descansadas
Que nada fizeram para tal sorte?

Haja respeito e consideração
Pelo homem e pela vida que é sagrada
E ninguém se julgue com razão
De a seu gosto a ver travada

Como pode alguém acreditar
Em homens que usam a riqueza
Para destruir, violar e matar
Enquanto a seu lado reina a pobreza?

Atentar de forma tão cruel
Contra a vida e o património
É  obra dos filhos de Maquiavel
Ou daqueles que servem  o demónio

Quem faz tamanha destruição
Não merece dó nem piedade
Mas sim cem anos de prisão
Para que nós tenhamos a liberdade

Não há fera que se possa comparar
Ao homem pelo que pensa e faz
Nenhuma mata apenas por matar
E de odiar, jamais será capaz

Que a ninguém assista o direito
De poder manipular as vontades
E usá-las em próprio proveito
Á custa de crime e de maldades

Os homens parecem estar a enlouquecer
Ao praticarem os crimes mais cruéis:
Mostram-se cansados de viver
Mas todos querem ser grandes e reis.

O homem precisa de compreender
Que não pode deixar liberto
Ainda que em local deserto
Aquele que o quer abater

Não ao fanatismo religioso
Á soberba ou á arrogância
Sim  a um conviver amistoso
No entendimento e tolerância

A fé deve servir para unir
Porque há um só e único Deus
E não para afastar ou dividir
Fazendo de uns santos de outros réus.

Para a terra ser um paraíso
E a paz uma realidade permanente
Bastava que o homem tivesse juízo
E da verdade fosse crente

Teremos que considerar desumano
O homem que sob qualquer razão
Á vida dos outros faça dano
E dar-lhe a justa condenação.

O Mundo seria o átrio celestial
Se o homem á Natureza dissesse amen
E se o empenho com que faz o mal
O usasse em prol do bem

Um ultimo alerta deixo aqui
A todo o homem de bom coração:
Os filhos do demónio estão aí
                                             Não vos deixeis cair na servidão!    

VÍÇIOS DO PODER

Aquele que monta o cavalo do Poder,
E toma para si as rédeas do animal,
Tudo faz para montado se manter,
E de mau grado, se apeia do pedestal.

Todos os atropelos é capaz de cometer,
E crer absoluto o que apenas é virtual,
Ou até pela força fazer prevalecer,
Apenas a sua vontade como real.

Inventa privilégios e imunidades,
Que atribui a si e aos seus compadres,
Como se fosse dono e senhor de tudo,

Promete o paraíso que não conhece,
Àqueles á custa de quem enriquece,
E às suas queixas se faz surdo-mudo.

EDUCAÇÃO?

Criam-se Universidades e Escolas Superiores
Centros de formação ou outros  Institutos
Multiplica-se o numero de professores
Mas são mais as sementes que os frutos

Nunca este País teve tantos doutores,
Mas nem assim diminui o numero de brutos
E dos sistemas que se dizem inovadores
Colhem-se resultados pobres ou diminutos

São mais de duas décadas de formação
Que não dão a adequada  preparação
Exigida por tão pesado esforço financeiro

Assim devo perguntar e com direito
Será que o ministério tem respeito
Por quem o sustenta com o seu dinheiro?

Conjugação fatal

Conjugação fatal

Tudo se conjuga para destruir o interior,
E o que ainda lhe resta de bom e de valor:
São os vícios, antes próprios só da cidade,
Mas que são hoje aqui uma enfermidade.
É a poluição que avança a passos largos,
E traz á nossa gente dias tristes e amargos.
É o ar que cheirava ao perfume das flores,
E que agora está carregado de maus odores.
È o rio Côa que já foi dos mais famosos,
E que hoje quase sem caudal nos traz chorosos.
São as fontes onde já bebemos á vontade,
E nas quais jorra hoje, água sem qualidade.
São as fabricas que em nome do progresso,
Viraram as nossas vidas e hábitos do avesso.
É a chuva que antes vinha regularmente,
E hoje participa no descalabro porque ausente.
É o lixo um pouco disperso por todo o lugar,
E contra o qual, o homem não quer lutar.
São os incêndios que sem razão aparente,
Deflagram e tudo destroem num repente.
É a segurança a que estávamos habituados,
E que deu lugar ao medo de sermos assaltados.
É a desertificação que arrebata a juventude,
E deixa só os velhos já fracos e sem saúde.
São os governantes alheios ao nosso mal,
Para quem só existimos em época eleitoral.
Somos enfim todos nós que não reagimos,
E de boa fé tudo aceitamos e consentimos,
Quem a história virá a julgar pela apatia,
E pela inércia em que vivemos o nosso dia.